“Esverdeamento” do sistema econômico e financeiro com mais investimentos em projetos sustentáveis para 2024.
O ano de 2023 foi marcado por alguns avanços na área do ESG e a expectativa é que, para 2024, o tema continue em alta impulsionando investimentos em negócios mais sustentáveis. Houve uma intensificação em normativas que visam os padrões ESG, para fornecer mais segurança aos investidores que optam por projetos que desempenhe um papel crucial na redução dos riscos físicos e de transição das mudanças climáticas.
Apesar do cenário global estar repleto de incertezas, as implicações negativas dos eventos climáticos extremos e os danos financeiros decorrentes, estão sendo elementos-chave para designar a elegibilidade dos investimentos em muitas carteiras de ativos, especialmente, projetos voltados à transição energética. Além disso, serão avaliados temas relacionados à saúde mental dos trabalhadores, aspectos de diversidade e inclusão nas empresas e ambientes mais colaborativos e inovadores.
Não que os investidores estejam preocupados, exclusivamente, com pessoas, mas quando esses aspectos estão controlados, eles diminuem os riscos para o capital reputacional da marca, indicando que tal empresa/ativo apresenta elementos de boa governança que tendem à estabilidade econômica para gerar os resultados financeiros desejados.
Por isso, em 2024, deveremos avançar em mais aspectos sobre os custos ambientais e sociais do crescimento econômico, cujos investimentos em projetos e programas sustentáveis devem constar na pauta dos negócios no Brasil. As macrotendências indicam que a preocupação mundial com os efeitos negativos das mudanças climáticas, e suas implicações nos negócios e na economia como um todo, intensificarão os investimentos em projetos mais verdes e sustentáveis para 2024. As instituições financeiras continuarão atentas aos custos econômicos com a adaptação e mitigação climática e os critérios ESG serão priorizados como fator de elegibilidade para investimentos financeiros que otimizem o desenvolvimento sustentável.
As principais tendências conduzem essa perspectiva seguem:
Tendência 1- Investimentos Internacionais em ESG: Gestoras de fundos internacionais, como a BlackRock que acredita que a sustentabilidade se tornará o novo padrão de investimento, têm sinalizado mais direcionamento de recursos em carteira de ativos que apresentem métricas ESG, no médio e longo prazo, à medida que os clientes aumentarem os investimentos favoráveis ao clima. Este movimento, também, estará sendo alimentado por um cenário político, quando metade da energia do mundo será de fontes renováveis (solar e eólica), até 2050, e com os Estados Unidos e a União Europeia introduzindo importantes apoios à transição energética para reduzir as emissões de carbono e mitigar o aquecimento global, impulsos estes, que podem refletir no setor brasileiro.
Tendência 2 – Legislações internacionais sobre ESG: o esforço mundial em reduzir o desmatamento e mitigar os impactos das mudanças climáticas está conduzindo a um estreitamento de investimentos e/ou relações comerciais com atividades econômicas que podem ter impacto efetivo no clima. A exemplo, cita-se o caso da União Europeia que instituiu legislação que proíbe a importação de produtos ligados ao desmatamento, com impactos diretos às exportações destas commodities no Brasil, mediante documentação comprobatória de que itens como gado, soja e café foram produzidos sem prejudicar o meio ambiente.
Tendência 3 – Legislações Nacionais: o mercado de investimento no Brasil tem adotado algumas normativas que consolidam as métricas ESG no âmbito dos negócios, tais como a Resolução BACEN Nº 139/2021 (bancos devem divulgar seus balanços em investimentos em carteiras sustentáveis) e Resoluções da CVM como a Nº59/2021 (entrou em vigor em 2023 e amplia a exigência de divulgação de informações sobre os aspectos ESG, com destaque para seis tópicos-chave exigidos); a Nº175/2022 (que também entrou em vigor em 2023 e estabelece orientações para a divulgação de informações por parte das empresas em relação a questões ESG); e RESOLUÇÃO CVM Nº193/23 e RESOLUÇÃO CFC Nº 1.710/23 que tratam sobre apresentação de relatórios de informações financeiras e contábeis, respectivamente, relacionadas à sustentabilidade, com base no padrão internacional ISSB.
Tendência 4 – Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC): o Brasil lançou o Plano de Transformação Ecológica para acelerar o crescimento econômico, sustentável e de baixo consumo de carbono do país, visando a transformação das empresas e dos ambientes de trabalho, já prevendo um déficit de empregos verdes para atender a esta nova demanda nacional. Este Plano tem três princípios – (a) gerar trabalho decente e aumentar a produtividade, (b) promover a justiça ambiental e climática e (c) reduzir desigualdades – que deverão ser atendidos através de finanças sustentáveis, adensamento tecnológico, bioeconomia, transição energética, economia circular e nova infraestrutura.
Tendência 5 – Taxonomia Sustentável no Brasil: o Brasil abriu consulta pública relacionada ao plano de ação para Taxonomia Sustentável, o que indica que serão estabelecidos os objetivos estratégicos, bem como o método de avaliação e seleção de investimentos específicos em projetos que abordem aspectos climáticos, ambientais e sociais, no âmbito do mercado de capitais no país. Esta regulamentação é essencial para aumentar a transparência das informações sobre atividades econômicas e financeiras sustentáveis e mobilizar investimentos e adensamento tecnológico voltado à sustentabilidade.
Tendência 6 – Brasil na presidência do G20: estando à frente das 20 maiores economias do globo, o país estabelecerá como lema “Construindo um Mundo Justo e um Planeta Sustentável“, com a proposta de criar uma aliança global contra a fome e a pobreza e impulsionar uma mobilização mundial contra a mudança do clima. Este posicionamento deverá atrair recursos financeiros e direcionar mais investimentos para projetos que contemplem os aspectos sociais, ambientais e de governança (ESG) na avaliação de risco e impacto.
Tendência 7 – Retomada da Agenda 2030: o Brasil reinstituiu a Comissão Nacional dos ODS (CNODS) e, desta forma, buscará retomar as ações para novos investimentos que atendam as metas dos 17 ODS (Objetivos do Desenvolvimento Sustentável) da Agenda 2030, incentivando financeiramente projetos com a roupagem da sustentabilidade em todos os setores da economia.
Tendência 8 – Novo Perfil dos Consumidores: o comportamento dos consumidores demandarão uma nova dinâmica de mercado, na qual as empresas deverão fornecer produtos e serviços que sejam socialmente responsáveis e ambientalmente corretos, além de exigirem que elas tenham uma postura mais ética e transparente na condução dos negócios, especialmente, no que tange à conduta de anticorrupção e atendimento dos direitos humanos.
Tendência 9 – Eventos climáticos extremos: a intensificação do aquecimento da temperatura do planeta deve provocar uma maior frequência e, também, intensidade deste fenômenos climáticos no país que, segundo dados da Bloomberg Línea, em 2022 as catástrofes naturais geraram US$ 5,5 bilhões em perdas econômicas no Brasil. Estima-se que essas questões devam redirecionar os negócios para um olhar mais sustentável, adotando métricas de ESG como forma de atenuar riscos e possíveis aumento em taxas no mercado de seguros.
Tendência 10 – Brasil como sede da COP 30: Belém (PA) sediará o 30º encontro da Conferência das Partes (COP) sobre o clima, em 2025, e a atenção do mundo estará voltada para o Brasil, com possibilidade de novos negócios em sustentabilidade e muitos investimentos em práticas ESG.
Diante deste cenário favorável, um dos maiores desafios a ser enfrentado é a questão do Greenwashing, ou seja, a lavagem verde, que ocorre quando uma organização faz alegações enganosas relacionadas à sustentabilidade para investidores e consumidores. Em 2023, segundo dados da RepRisk, o número de casos de Greenwashing por parte de bancos e empresas de serviços financeiros, em todo o mundo, aumentou em 70%. As instituições financeiras europeias foram responsáveis pela maioria desses casos, com alegações relacionadas aos combustíveis fósseis.
Nestes termos, em 2024, a normatização sobre os critérios ESG deve se tornar mais rigorosa para que as informações reportadas sejam geradas com maior confiabilidade, permitindo a sua verificabilidade. As empresas precisarão se readequar para atender a estas novas demandas e os profissionais precisarão desenvolver suas habilidades em ESG (Green Skills) para contribuir com um futuro mais ecológico e responsável para o planeta.