De acordo com o último relatório do Fórum Econômico Mundial sobre o futuro dos empregos, haverá um aumento significativo nas ocupações que exijam habilidades em sustentabilidade nos próximos anos. Isto porque aumentarão os investimentos na transição econômica pela mitigação das mudanças climáticas, assim como ocorrerá uma maior exigência dos consumidores por produtos e serviços que sejam mais conscientes e sustentáveis.
Estas mudanças vão impulsionar a transformação de muitos setores e novas oportunidades no mercado de trabalho deverão surgir. Por isso, conhecimento e sensibilização são elementos-chave para que um profissional possa desenvolver suas habilidades (soft e human skills) sobre sustentabilidade, tais como ampliação de cursos e workshops que integrem diretamente este conceito ao tema de finanças, estudos específicos e parcerias institucionais que fomentem um programa em finanças sustentáveis.
Mas as demandas por estes novos conhecimentos não deverão estagnar nos aspectos ambientais, como energia renovável, eficiência energética, redução das emissões dos GEE, gestão de resíduos sólidos e economia circular. Serão necessárias as habilidades em todos os aspectos que envolvem a sustentabilidade para que se possa minimizar os impactos das mudanças climáticas por meio de abordagens voltadas à sociedade em geral, como diversidade, acessibilidade e inclusão, equidade de gênero, redução das desigualdades, saúde mental e bem-estar coletivo, empoderamento das comunidades locais e promoção de cidades e assentamentos humanos mais sustentáveis.
Para isso, será preciso vencer algumas barreiras que impedem uma discussão mais abrangente, pois é comum relacionar a temática à militância política e ideológica. E isso ocorre em muitos cursos de formação em ESG, relativizando as questões ambientais e sociais e mantendo a mesma visão segmentada sobre o que seja sustentabilidade. É preciso entender que todos os outros elementos interferem no crescimento e desenvolvimento econômico das organizações e podem refletir, positiva ou negativamente, sobre capital reputacional e valor tangível das marcas.
Por isso, precisamos evoluir em muitos aspectos e o primeiro deles é entender que sustentabilidade não é sobre o verde, mas sobre pessoas. Então, sustentabilidade é sobre todas as cores que possam representar a pluralidade do ser humano e a biodiversidade do planeta.
É colocar todos os elementos que existem na biosfera no mesmo patamar de valoração e respeito pelo direito de existir e evoluir através de um processo natural da vida. Quando adquirirmos a expansão da consciência sobre estes aspectos, somos contemplados com uma visão mais acurada sobre o que seja a sustentabilidade, e o profissional do sistema financeiro estará mais favorável a ampliar seus conhecimentos sobre o tema.
O segundo ponto de reflexão é que nós já avançamos em muitos saberes que envolvem a sustentabilidade e temos um bom ponto de partida, que é a Agenda 2030 da ONU (Organização das Nações Unidas). Esta agenda foi criada em 2015 em substituição aos 08 ODM (Objetivos do Milênio) e, atualmente, ela importa a todos os países e setores da sociedade.
A Agenda 2030 é formada por 17 ODS (Objetivos do Desenvolvimento Sustentável) que retrataram sobre os principais temas de interesse da humanidade para avançar no desenvolvimento sustentável como as mudanças climáticas, a diversidade e equidade de gênero, a agricultura sustentável, a redução das desigualdades socioeconômicas dentro dos países e entre eles, a promoção do consumo sustentável, a ampliação da inovação tecnológica e social e a criação de comunidades e cidades inteligentes, além de garantir a paz e manutenção de instituições justas e eficazes. Então, este deveria ser um conteúdo básico para desenvolver qualquer profissional que deseja atuar na área da sustentabilidade, seja ele ou não de formação técnica ou acadêmica de áreas afins.
E por fim, precisamos entender que muitas vezes criamos complexidade onde existe apenas simplicidade. A sustentabilidade deve ser conhecida, vivenciada e potencializadas nas pequenas ações de nosso cotidiano e cuidar das pessoas e do planeta deveria ser papel de todos os profissionais, de qualquer área.
Empoderados pelo conhecimento sobre sustentabilidade um profissional da área financeira poderia se tornar agente ativo no processo de mitigação à crise climática e passaria a investir as suas capacidades para realizar todo o seu potencial na construção de negócios mais resilientes e aderentes às novas demandas da sociedade.
Talvez aqui esteja um (novo) desafio ao mercado financeiro: saber monetizar os novos valores que estão sendo demandados pela sociedade, ao mesmo tempo que se reconheça como agente de transformação desse processo – (re)evolução pela sustentabilidade.
Todos os profissionais deveriam ter a responsabilidade e o compromisso de estar na linha de frente do combate à crise climática, seja por questão de sobrevivência, seja por ampliar a visão sobre como se pode gerar negócios inteligentes e inovadores, a partir da sustentabilidade. Por certo, ela realmente se tornaria um bom plano de negócios e se estabeleceria uma relação “ganha-ganha-ganha” entre empresas, sociedade e planeta.