Desde os anos 1970 existe uma preocupação com a degradação dos recursos naturais decorrentes de ações antrópicas como consequência do desenvolvimento socioeconômico e progresso material. As discussões centravam-se na existência de limites físicos impostos pelo meio ambiente ao crescimento econômico e populacional ilimitado, e a grande questão era saber como poderíamos garantir que as novas gerações pudessem ter suas necessidades atendidas, sem prejuízos ao seu próprio desenvolvimento no futuro.
Neste período surgiu o Relatório do Clube de Roma e/ou Relatório Meadows (1972) que discutia os limites físicos do crescimento e o progresso tecnológico, cujas conclusões apontavam para a possibilidade real de escassez de recursos naturais e a degradação ambiental como os principais limitadores do desenvolvimento da sociedade humana. Para a época, os avanços em soluções tecnológicas não poderiam fornecer o suporte necessário às pressões ambientais desencadeadas pelo crescimento populacional e demais atividades necessárias à sua manutenção. Cabe destacar que as questões climáticas eram muito incipientes e as primeiras legislações e normativas ambientais estavam sendo criadas.
Estamos caminhando sem avançar…
Cerca de quase meio século depois, nos deparamos com os mesmos problemas, mas, desta vez, com previsões de impactos mais graves, mais persistentes e com reação em cadeia. Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), o aumento da temperatura média tende a causar o agravamento da insegurança alimentar, hídrica e de saúde, em todo o mundo. Ainda, os desastres naturais relacionados às mudanças climáticas estão atingindo, especialmente, as pessoas mais vulneráveis e os ecossistemas mais frágeis, como os manguezais, áreas costeiras e semidesérticas.
Ou caminhamos para um ponto sem volta?
Para o IPCC, estamos caminhando para o que se denomina de “Pontos de Inflexão”, que são limiares críticos em um sistema que, quando excedido, pode levar a uma mudança significativa no estado do sistema, muitas vezes com o entendimento de que a mudança é irreversível. Além disso, o cruzamento de um ponto de inflexão poderia levar ao desencadeamento de mais elementos de inflexão, como num efeito dominó, onde um problema gerado expande a vários outros, numa reação em cadeia.
Isso pode tornar alguns lugares menos adequados para sustentar sistemas humanos e naturais, devido às mudanças drásticas e imprevisíveis. Exaustão dos recursos naturais, poluição ambiental, perda da biodiversidade, aumento do eventos climáticos extremos, ampliação das desigualdades socioeconômicas, elevação de vetores e doenças, esgotamento do fornecimento de energia, perda de produção agrícolas, etc. são alguns dos problemas apontados como consequência do aquecimento global.
É pouco provável que a mentalidade que nos encurralou na crise climática seja capaz de nos tirar dela!
Apesar de novas tecnologias e inteligências necessárias para mitigar a urgência climática estarem ao nosso dispor, ainda insistimos em soluções paliativas e que nos conduzem a uma pseudo adaptação aos riscos climáticos. Isto porque nossa forma cartesiana, positivista, linear, racional e reducionista de pensar e construir o mundo está se transformando numa barreira à mitigação da crise atual.
Precisamos de um novo mental que nos permita lidar com problemas complexos e dinâmicos, como o das mudanças climáticas, interligando vários elementos para criar uma visão ampla sobre diversos fatores e promover um desenvolvimento que seja resiliente ao clima. Adotar o pensamento sistêmico na resiliência climática implica em desenvolver estratégias e políticas que abordem as complexas interações entre os sistemas naturais, sociais e econômicos, visando a mitigação dos impactos das mudanças climáticas e a promoção de uma adaptação verdadeiramente eficaz.
A importância do pensamento sistêmico em momentos de crise: Urgência Planetária
Adquirir a habilidade de um pensamento sistêmico é considerar as interações complexas entre os diferentes componentes do sistema climático, sociedade e meio ambiente, como forma de se enfrentar os desafios climáticos atuais e futuros. Na prática, isso significa considerar não apenas os impactos diretos das mudanças climáticas, como aumento da temperatura, eventos climáticos extremos e elevação do nível do mar, mas também os efeitos indiretos e inter-relações entre diferentes sistemas.
Neste processo de resiliência climática, as empresas cumprem função fundamental quando reduzem suas externalidades socioambientais e zeram as emissões de gases que intensificam o efeito estufa. Contudo, é crucial discernir se estes esforços de sustentabilidade realmente cumprem as suas promessas e compromissos públicos ou se, em alguns casos, servirão como instrumentos de marketing destinados a distrair partes interessadas.
Quer saber mais sobre o tema?
Assista o Talk Sustentável – 19/02/24 – 11h – Os impactos negativos do crescimento ilimitado em um planeta finito: https://www.linkedin.com/events/osimpactosnegativosdocresciment7164312087068897281/theater/